domingo, 18 de agosto de 2013

Sobre idas e vindas

Depois de tanto tempo, reapareço! Volto com o desejo de permanecer... A falta de tempo (ou o mais perverso, o discurso da falta de tempo), a loucura do cotidiano que nos afasta de nós. Sim, porque acredito que a escrita nos aproxima daquilo que realmente somos, ou, no mínimo, vai dando cor e forma ao âmago tão desconhecido. Pois bem, é isso que me move. Quero continuar por aqui: escrevendo e escrevendo-me! Até mais!

sábado, 25 de junho de 2011

A Máquina II

Só para cumprir a palavra, a série continua... e acaba aqui!

Você que se perguntou: será que a autora estava pensando nessas coisas na hora de escrever o seu livro ou será que isso tudo é viagem de professor. Aí vão algumas reflexões para movimentar estas ideias e ventilar novos ares na área!

Os autores, no geral, não são criaturas mágicas que surgem da noite pro dia ou que brotam de cogumelos gigantes em chamas na Babilônia. São mulheres e homens indubitavelmente interpelados pelo seu tempo. Mikhail Bakhtin, um teórico russo bem importante, nos lembra que as palavras são tecidas a partir de uma multidão de fios ideológicos e servem de trama a todas as relações sociais em todos os domínios da vida humana. É percorrendo as marcas desses fios entrelaçados num todo estético – a obra – que interessa pensar na maneira como o texto representa a condição brasileira na literatura. Sobre isso, um outro teórico chamado João Almino escreveu:

O escritor, fiel a sua própria subjetividade, não poderá deixar de ser homem ou mulher de seu tempo e de sua terra, o que legitima a análise do contexto de suas obras. Colocando-as umas ao lado das outras, o ensaísta literário pode vislumbrar a teia cultural e o chão histórico que as une, considerando válido organizá-las e comentá-las segundo critérios histórico-sociais e estéticos, mesmo que esses critérios não tenham consciente ou explicitamente guiado os poetas e ficcionistas no momento da criação.

Viu só, cara/o amiga/o! Mesmo quando não queremos somos capazes de revelar as marcas do nosso tempo, já que é ele que nos constitui. Quando chegamos ao mundo, ele já estava funcionando há muito tempo. Nós somos inseridos numa lógica que está presente na forma de pensar e de nos relacionar. Isso não significa, porém, que somos marionetes da História, robôs que agem sem pensar. Significa que as nossas relações são marcadas pela História, da qual nós também somos agentes.

Assim, vemos na obra de Falcão um choque entre o atraso, o arcaico, simbolizado por Nordestina, uma cidadezinha do interior que sequer encontra lugar no mapa; e o progresso, a modernidade, representado pela metrópole, o Rio de Janeiro.
Nordestina, “lugarzinho sem futuro”, é o lugar do qual todos estão indo ou já foram embora (“Nordestina se dividia entre os que estavam indo embora de lá, os que estavam preocupados com isso e Antônio, que não estava indo embora mas também não estava nem aí”).

Antônio, personagem principal, além de ser o menino do café, o número 19 da folha de pagamento da prefeitura, o filho mais velho de dona Nazaré, é uma espécie de operário das sobras dos que partem de Nordestina, restos que simbolizam as sombras dos antigos habitantes. Em sua oficina encontram-se os mais diversos trastes, os quais Antônio conserta sem saber para que nem para quem. Por isso mesmo ele parece ser o único que resiste em sair da cidade. Ele preserva esses objetos como que para preservar a memória do povo e para garantir a sobrevivência de Nordestina. Será?
Abraço e boa leitura!

domingo, 15 de maio de 2011

A última borboleta


A última borboleta voou
Saiu girando em espirais
Sinuosa num vôo leve e seguro
Vôo de quem sabe o alcance das asas,
De quem tem a destreza da liberdade
De quem sente o cheiro-norte da flor

Hordas de miseráveis a seguiam
Buscando caminhos
Crendo num destino seguro
Iam cegos, guiados pela borboleta solitária
Que ignorava o choro e o ranger dos dentes
Que só pensava em voar, em girar
Como rodas gigantes e moinhos

Hordas de miseráveis em fúria
Abandonando o mundo vazio
De flores-garrafas-pneus
E sementes de podridão
Que se multiplicam
Em terrenos baldios.

Outrora a borboleta pairava
Sobre as águas borbulhantes do aterro
Tornava a tragédia bela
Estetizava o feio numa perversa ternura
Entre fome, tristeza e crua esperança.

Pousada na lata amassada
Compôs um belo quadro do lixo
Cores vivas contrastando como cinza
Que cheirava a morte e destruição
Levantou vôo e foi buscar novas cores
Novos ares, aromas, amores
Seguida pela multidão cega e triste
Que sonha com um mundo
Colorido de borboletas...