terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Irmãos...


Há tempos venho querendo realizar um pequeno projeto: escrever uma poesia para cada um dos meus irmãos. Uma espécie de homenagem. Muito embora reconheça que os meus caminhos pela poesia não são os mais frondosos, teimo e insisto. De qualquer forma, começo a por em ação. Dedico os poemas que virão a cada um dos meus cinco irmãos, parceiros que dividem comigo a árdua tarefa de existir num mundo tão cheio de competições e de violência. Neles encontro o apoio para enfrentar as duras batalhas que surgem pelo caminho. E mesmo sem ficar declarando isso em voz alta entre nós, sabemos e reconhecemos o valor de ser irmãos, juntos nas adversidades e felizes nas realizações. É isso aí, com o meu amor, Rafael.



I

Foste sempre
Um bom filho
Para um pai medíocre
– Um pai pródigo de filho bom –
Filho terno
Para mãe forte

Sempre justo em suas atitudes
Nunca foste criança
Nasceste homem, homem maduro
E pronto para enfrentar tua sina

Sentado no sofá
Chorava quando o pai ameaçava ir embora
Era cúmplice da mãe castigada pela sandice do algoz
Era pai quando o pai se negava o lugar que a fortuna lhe predestinou
E insistia em soltar pipa e jogar biloca e em correr pelo mundo a fora
Para esquecer o peso de sua vida de adulto
Para achar que não estava só.

Sentiu desde sempre
A dor de cuidar dos outros
E a consolar quando também lhe rebentavam as fibras
Mas isso te fez forte
e hoje o mundo gira como um pião na palma da mão calejada

A vida que embrutece
O sofrimento que endurece
Pelo contrário
Só te fizeram mais lacrimoso
E de teus olhos jorram sangue, suor e saudade
Em tua marmita carregava o amor de uma mãe corajosa

Traz em ti o cheiro de capim-santo
Pão das três, bolinho de chuva,
Cheiro verde, chuva caindo serena
Generosa no dever de espalhar a vida

Teus braços se abrem para o infinito
Buscando as respostas de um tempo perdido
Esperas sentado numa janela de vidro
O instante de ver um futuro bonito

Futuro que vem consertar o passado
Passado interdito pelo bom sofrimento
Marcado que foi pelos cortes do tempo
Esperas de dentro de um sonho o Esquisito
A ventura que vem com o sopro do vento...


II

Não sei ao certo quanto tempo se passou
Entre o menino de outrora e o pai de agora

Embalando a filha com a mão no seu rosto
Ensaiando os gestos do reconhecimento

Decorando as marcas de um ser tão diverso
Que de dentro de si emergiu num momento

Ainda te vejo criança pequena
Tartamudeios e cacos de uma fala confusa

Correndo entre outros, desobedecendo
Os limites que em vão te mostravam os dedos

Da feição infantil e das brincadeiras
Nada se foi com a aventura do tempo

Permanece infante e festeiro e menino
Mas sente pesar o pesar de ser herói

Um herói que não viu a passagem das horas
Que não sabe o tamanho e o temor das tormentas

Que dança de dia para espantar os fantasmas
Que foge para não responder as perguntas

Que insistem em burlar a censura
Das frágeis comportas do seu sentimento

Dos medos que coleciona na gaveta pequena
Está o de ter que crescer num repente

E trair os sonhos que um dia plantou
E que inda hoje não são mais que sementes.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011


Vestida de seda,
De chita, organdi
Branqueia a paisagem,
- Pálida Elvira.
*
Helena, Carlota,
Lolita, Ester.
Seu ser se reveste
Se trocas de veste,
És uma sereia.
Persona: mulher.
*
Poeta maldito,
Perdestes o siso,
Nem sabes teu nome
Mal sabes o que quer.

Te lembro de pronto
Tal qual Mefistófeles
Teu nome é Werther,
Destino: morrer.
*
Cavalga indeciso
Qual redemoinho:
“lançaste feitiço
Pra dentro de mim?”

Caiu tua máscara,
Embuste, falácia.
Te vejo cá dentro,
És Diadorim”.