
Querida Carol,
Sinto falta de quando tínhamos tempo de conversar sobre as inutilidades cotidianas que enchiam nossa vida de sentido...
Lembro com saudade de quando caminhávamos após a escola, ignorando o sol de meio-dia e as seis exaustivas aulas que nos aprisionavam temporariamente. Mas sabíamos o que era liberdade - a liberdade dos que não vivem atados aos grilhões dos boletos bancários, das contas de água, luz e telefone. Saudade da adolescência que parecia não passar e que hoje está tão distante. Se fechar os olhos, ainda me lembro da mochila jeans, dos tênis desgastados, dos cadernos de matéria que serviam para forrar o assento,para calço de mesa, para marcar o lugar na sala, além, é claro, de ser o repositório da famigerada trigonometria.
Como o tempo passava rápido nas rodas de truco, como éramos onipotentes - cavaleiros armados: em lugar da espada e da armadura, canetas e uniforme escolar. Nossos medos eram nossos brinquedos. Com a "alma de sonhos povoada", regíamos tempestades, desafiávamos os limites do tempo, da rotina, do corpo; rasgávamos as fotos dos nossos heróis, depois colávamos os pedaços novamente.
Sinto falta das preocupações da época, de quando nos orgulhávamos dos nossos problemas, competíamos para ver quem era o mais incompreendido. Afinal, ser adolescente é ter uma vida boa e querer lágrimas e consolo. Éramos nós mesmos os nossos analistas (freudianos, junguianos, lacanianos, sei-lá). Despejávamos teorias complexas formuladas da altura dos nossos quinze anos. E o mais incrível: vislumbrávamos algo de cura!
Nossa revolução era um abaixo-assinado. Azar o das baleias, dos micos perseguidos, da emissão de CO2; nossa luta era contra nossos professores, contra nossos pais, contra nossa adolescência e imaturidade, enfim, contra nós mesmos. Não dá para dizer que éramos rebeldes sem causa. Nossas causas é que eram pequenas para os olhos adultos e grandes demais para os limites do nosso quarto.
Tive a honra de conhecer esse teu texto antes da maioria das pessoas que agora o leem, e fico realmente grata.
ResponderExcluirE ele me faz refletir sobre algo importante e bonito, essa mudança que a vida nos proporciona nessa fase maluca pela qual todos passamo, entre os 17 e 20 anos.
Parece que engolimos o mundo nessa época, sorvemos de tudo o que ele pode nos proporcionar de uma só vez, imaginando que isso é tudo, e mais tarde vemos que ainda temos um mar dele para ainda ser desvendado...
Enfim...divagações.
Um beijo querido
:*
belo texto!
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