terça-feira, 13 de outubro de 2009

Eu sou um clichê!


Querida Carol,

Sinto falta de quando tínhamos tempo de conversar sobre as inutilidades cotidianas que enchiam nossa vida de sentido...
Lembro com saudade de quando caminhávamos após a escola, ignorando o sol de meio-dia e as seis exaustivas aulas que nos aprisionavam temporariamente. Mas sabíamos o que era liberdade - a liberdade dos que não vivem atados aos grilhões dos boletos bancários, das contas de água, luz e telefone. Saudade da adolescência que parecia não passar e que hoje está tão distante. Se fechar os olhos, ainda me lembro da mochila jeans, dos tênis desgastados, dos cadernos de matéria que serviam para forrar o assento,para calço de mesa, para marcar o lugar na sala, além, é claro, de ser o repositório da famigerada trigonometria.
Como o tempo passava rápido nas rodas de truco, como éramos onipotentes - cavaleiros armados: em lugar da espada e da armadura, canetas e uniforme escolar. Nossos medos eram nossos brinquedos. Com a "alma de sonhos povoada", regíamos tempestades, desafiávamos os limites do tempo, da rotina, do corpo; rasgávamos as fotos dos nossos heróis, depois colávamos os pedaços novamente.
Sinto falta das preocupações da época, de quando nos orgulhávamos dos nossos problemas, competíamos para ver quem era o mais incompreendido. Afinal, ser adolescente é ter uma vida boa e querer lágrimas e consolo. Éramos nós mesmos os nossos analistas (freudianos, junguianos, lacanianos, sei-lá). Despejávamos teorias complexas formuladas da altura dos nossos quinze anos. E o mais incrível: vislumbrávamos algo de cura!
Nossa revolução era um abaixo-assinado. Azar o das baleias, dos micos perseguidos, da emissão de CO2; nossa luta era contra nossos professores, contra nossos pais, contra nossa adolescência e imaturidade, enfim, contra nós mesmos. Não dá para dizer que éramos rebeldes sem causa. Nossas causas é que eram pequenas para os olhos adultos e grandes demais para os limites do nosso quarto.

2 comentários:

  1. Tive a honra de conhecer esse teu texto antes da maioria das pessoas que agora o leem, e fico realmente grata.

    E ele me faz refletir sobre algo importante e bonito, essa mudança que a vida nos proporciona nessa fase maluca pela qual todos passamo, entre os 17 e 20 anos.
    Parece que engolimos o mundo nessa época, sorvemos de tudo o que ele pode nos proporcionar de uma só vez, imaginando que isso é tudo, e mais tarde vemos que ainda temos um mar dele para ainda ser desvendado...

    Enfim...divagações.


    Um beijo querido
    :*

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