segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

"A solidão de ser só dois"



Os corpos nus espalhados na cama.
Não tinham sequer recobrado as forças após o intenso gozo que ainda enchia seus corpos de uma avalanche de choques e espasmos.
De repente, ele se virou de lado, alcançou os cigarros e o isqueiro em cima de um criado mudo e acendeu.
A fumaça criou uma espécie de cortina entre os dois, quando ele começou a falar:
“Já pensou que loucura: se eu morresse agora eu nunca mais sentiria prazer. Não é mesmo louco!?”
A cortina se adensou. A fumaça branca agora mais espessa parecia paralisada no ar entre os dois.
“Se você morresse agora, disse ela, eu nunca mais sentiria prazer.”
A frase saiu desconcertada, entre titubeante e emocionada por ter proferido o que poderia ser interpretado como uma declaração de amor. E talvez o fosse. Era.
Nunca antes fora capaz de dizer isso a ninguém, tanto por incerteza quanto pela falta de oportunidades. Colecionou quatro ou cinco romances malfadados cujas declarações nem...
Disse e desviou o olhar. Queria parecer indiferente, distante, soou envergonhado, tímido, real.
Ele se levantou calmamente, pôs no aparelho um disco de Noel:
“Você precisa pensar um pouco mais em si mesma”.
“Eu não te entendo.”
“Talvez nunca entenda mesmo, mas que importa? você precisa é se entender!”
Disse isso enquanto se vestia.
Nessa hora, ela se virou de lado, cobriu-se com o lençol amarrotado e pela primeira vez envergonhou-se de estar nua.

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