terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Semente de gente-quando-morre

E trazia consigo
Estampado no rosto
Algo entre a dor e a melancolia
Como se soubesse, se cresse
Que estar no mundo lhe era um favor concedido
A vida lhe negava o gosto
De ver o pleno da aurora
Andava como se aos outros incomodasse
E suportava como um Jó
Toda dor que lacerava

Sentia falta de quê?
De tudo que não sabia
Daquilo que não vivera
E sonhava inutilmente
Com um mundo coberto de sonhos
Com um mundo coberto de sempres
Com um mundo coberto de mundos
Com um mundo prenhe de tempos

Um palhaço sem graça e sem laço
Sem nariz colorido e sem passo
Ensaiado para roubar um sorriso

Tudo lhe era falta
Uma ausência que lhe preenchia
Como o tumor que lhe crescia no de-dentro
Roubando-lhe a vida, embora medíocre, lampejo de vida;
Faísca de gente, embora baço;
Esboço de homem, embora sem nome.

José, Severino, Augusto, Raimundo quem sabe
Nordestinamente desafiando as certezas,
Querendo ser forte,
Antes de tudo, forte
Carrega no ombro com toda destreza
A dor de ter dor no momento da morte...

Deitado em seu novo leito
A terra o abriga

Terra-casa, terra-amiga
lhe planta pra ver se agora amadura
ele que nunca saiu da semente
e o povo vai ver entre crente e descrente
um palhaço brotando do chão da amargura
um palhaço, um homem, um bicho-semente...

Nenhum comentário:

Postar um comentário