segunda-feira, 9 de maio de 2011

Reflexões sobre Educação



Tenho afirmado, sem medo das conseqüências, que a educação pública brasileira passa por uma verdadeira crise. Pessimismo à parte, considero que um momento de crise é sempre importante para a evolução. É, como a etimologia já indica, momento de decisão, de mudança. As atrocidades que vemos e ouvimos diariamente são o grito desesperado de uma instituição carente de profundas transformações, de alterações significativas no sentido de fazer com que ela volte a ter significado. Sim, porque o que se nota é que a escola precisa ser ressignificada, precisa repensar o seu papel num mundo cujos valores destoam dos modelos nos quais a maioria de nós fomos formados.
Os professores há muito não representam autoridade. Pelo contrário, parecem cambaleantes nesse entrelugar, misto de psicólogo, de conselheiro tutelar, de policial, de pai e mãe, quando estes faltam em suas vidas. Os discursos professorais que, quando o puro vigor pedagógico falhava, se utilizavam das provas e recuperações como instrumentos de barganha, de negociata, agora soam frágeis diante de uma educação facilitadora que se esforça apenas em comprovar com índices e tabelas a redução das retenções nas escolas de todo o país. Estatísticas que escamoteiam a real condição de um sujeito que vê diante de si uma função de 2º grau sem sequer reconhecer as operações essenciais, impossibilitado de redigir um texto simples contando sua história de privação e exclusão. E essa história precisa ser contada...
Falo de realidades de sala de aula que tenho acompanhado onde os professores se sentem frustrados por não conseguirem, apesar de tanto empenho, um espaço de diálogo, um momento de atenção, um lampejo de curiosidade. Não aquela curiosidade que nos deixa meio desconsertados e nos força a estudar mais para surpreendê-los, mas perguntas, ainda que primárias, que demonstrem o mínimo de vitalidade. Vitalidade que lhes foi roubada por uma escola, produto de uma história de exclusão e privilégios, que mortifica dia a dia os sujeitos amontoados e distribuídos entre projetos que, como promoções-imperdíveis-tipo-casas-bahia, prometem aceleração, progressão e sucesso e só promovem atraso, deficiências e obstáculos. É quase impossível que alunos que, magicamente, pulam da 5º série para o Ensino Médio acompanhem o processo e logrem êxito, posto que as habilidades e competências necessárias para aquele momento da vida foram rabiscados de sua lista, agora transformada numa interminável relação de preconceitos e discriminações a serem enfrentadas.
Faço também deste texto um espaço de homenagem às professoras e professores que se embrenham na estrada sinuosa da sala de aula, que reinventam a cada dia o seu jeito de ensinar e aprendem com esses abalos. Homenageio não por simples elogio ao mérito, mas porque diariamente eles demonstram o que é coragem, esperança e dão pistas de como mudar a realidade.
O fato é que há uma série de questões a serem enfrentadas: o aluno desinteressado, numa escola desinteressante, com professores desmotivados, é levado ao fracasso; os alunos pouco interessados numa escola que pouco lhes proporciona como espaço de crescimento é, muitas vezes, arrastado pela mediocridade reinante de uma lógica minimalista; o aluno empenhado, com desejo de crescer e de enfrentar sua exclusão, em detrimento da escola e dos professores que possui é um milagre. E, embora eu acredite em milagres, prefiro a vivência da religiosidade que diz “o Reino é aqui; é o agora”, que entende que a luta é parte necessária do processo. É enfrentando a realidade que damos o primeiro passo na direção da mudança. De minha parte, estou lutando o bom combate e me empenho em fazer chegar o mais longe que puder as vozes silenciadas pela lógica da exclusão, da marginalização, do desdém do poder público, pois como questiona Drummond, “posso sem armas revoltar-me?”. Sim, podemos!

Um comentário:

  1. Saudações Arteiras!!

    Ainda bem que me considero seu amigo, quando o reconhecimento dos "outros" chegar lá quero estar pra te aplaudir e comentar: esse muleque vai longe.

    Paz e Bem.
    Onildo Junior

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