domingo, 15 de maio de 2011

A última borboleta


A última borboleta voou
Saiu girando em espirais
Sinuosa num vôo leve e seguro
Vôo de quem sabe o alcance das asas,
De quem tem a destreza da liberdade
De quem sente o cheiro-norte da flor

Hordas de miseráveis a seguiam
Buscando caminhos
Crendo num destino seguro
Iam cegos, guiados pela borboleta solitária
Que ignorava o choro e o ranger dos dentes
Que só pensava em voar, em girar
Como rodas gigantes e moinhos

Hordas de miseráveis em fúria
Abandonando o mundo vazio
De flores-garrafas-pneus
E sementes de podridão
Que se multiplicam
Em terrenos baldios.

Outrora a borboleta pairava
Sobre as águas borbulhantes do aterro
Tornava a tragédia bela
Estetizava o feio numa perversa ternura
Entre fome, tristeza e crua esperança.

Pousada na lata amassada
Compôs um belo quadro do lixo
Cores vivas contrastando como cinza
Que cheirava a morte e destruição
Levantou vôo e foi buscar novas cores
Novos ares, aromas, amores
Seguida pela multidão cega e triste
Que sonha com um mundo
Colorido de borboletas...

4 comentários:

  1. Liberdade tem formato de borboleta...que voa assim, leve, esguia, dominando o céu de delicadeza.

    Saudade de conversar com vc querido amigo mestre Rafa.

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  2. Belíssimo poema. Parabéns pela sensibilidade. Sou borboleta...

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  3. Rafael! Sou sua aluna do Maristão, segundo "I"... Muito bom seu poema, adorei! Legal saber que você gosta de escrever poesia! Se quiser, visita meu blog qualquer hora! Um abraço!

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